Pqp 0001 - JokerPsique
Por Wagner Ferraz
Difícil escrever sobre a citada proposta artística, pois acredito que tentativas de significação ou compreensão são dispensadas. Serei chlichê, mas faço questão de dizer, que a “obra” de Alessandro fala por si só. Não precisa de interpretações, pois acredito que muitas coisas não estão no dizível, mas no sensível. Por isso esclareço que não se trata de uma crítica o que aqui escrevo, pois não sou crítico e não tenho intenção de ser, mas quero expressar e dividir com outras pessoas minhas impressões e sensações durante a experimentação que disparou algo em mim me colocando nesse exercício de escrita. Digo experimentação por ter me sentido experimentado intensos e diferenciados momentos ao assistir essa proposta.
Senti-me em diálogo com Alessandro durante a apresentação, só abri minha boca, em alguns momentos, para rir, mas acredito que se eu quisesse conversar ele teria dialogado comigo tranquilamente.
JokerPsique me surpreendeu em muitos momentos, em outros não fiquei tão surpreso, mas me senti sendo “tocado”, senti um toque que acionava algo em mim me fazendo sentir “coisas” que não posso falar, pois não consigo e não sei dizer, mas estavam muito claras em tudo o que vi.
De acordo com o que ouvi antes entrar na sala Álvaro Moreyra, o performer/bailarino/ator/criador falaria de coisas muito íntimas de sua vida, e acredito que em muitos momentos ele tenha feito isso. Mas em outros, sua proposta conseguiu me conduzir por um espaço ao encontro de minhas memórias e lembranças, e muitas eram acionadas por eu me identificar com o que eu via na cena.
Essa proposta me apresentou “formas”, caminhos, linhas, perspectivas que traduzi como possibilidades de olhar, pensar, escrever, experimentar e experienciar o corpo performático em cena.
Não pretendo descrever o trabalho visto, não quero buscar significações, penso não ser necessário conseguir esclarecer o que possivelmente estava na ideia de Alessandro, além de ser uma tentativa em vão, seria um absurdo que reduziria muito a intensidade, as forças, as dinâmicas, as relações estabelecidas em cena entre o intérprete/criado com os elementos cênicos, espaço, platéia, luz, som, figurino... Transformando o que vi em meras palavras que constituiriam imagens sobre uma proposta tão ricamente “menor”. Aqui digo “menor” lembrando de Deleuze, pensando em “menor” não como algo inferior com menos valor, mas como algo que não reproduz um “maior” para fazer a diferença, mas faz a diferença através da singularidade. Arrisco dizer que me refiro a um maior que penso ser repetitivo, naturalizado, acomodado, comum, e visto sempre em diferentes, espaços, corpos, propostas, danças e atuações. E falo de um menor que se diferencia de tudo que é sempre tão igual, comum, tradicional...
A única coisa que eu conseguia dizer em voz muito baixa (ou melhor mentalmente) enquanto assistia JokeiPsique era pqp. Utilizo pqp como quem tenta expressar muita coisa e não consegue, então o pqp serve como tentativa de tradução de minhas sensações.
Alessandro Rivellino e todos os envolvidos, parabéns, sucesso e sigam de olhos fechados. Olhos fechados para não se deixar contaminar por certas imagens que muitas vezes nos fazem representar o que tantas pessoas repetem. Mas estejam com os “poros” disponíveis para sentir tudo o que tocá-los no transito por tantos espaços e caminhos.
Wagner Ferraz
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Wagner Ferraz é um dançante, pesquisador e performer. Coordenador dos Estudos do Corpo, Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados emhttp://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação na UFRGS e CAPACITAR e professor do Curso de Tecnologia em Dança da UCS. Contato:[email protected].
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