(Con)Vivência Artística no II SEDANCE
Por Wagner Ferraz
Um texto... um atraso...
Entre os dias 16 e 20 de novembro de 2015, ocorreu na Universidade Federal de Santa Maria (RS) o II SEDANCE - Seminário de Dança Contemporaneidade e Educação, com a coordenação geral do Prof. Dr. Odailso Berté. A programação contou com a (Con)Vivência Artística sob a orientação do artista Adilso Machado e a mostra deste processo. É “com”[1] o que assisti nesta mostra que escrevo este breve texto tratando do que reverberou em mim. Observem que como sempre assumo nos meus textos, não estou buscando interpretar, significar ou dizer uma verdade sobre o trabalho assistido, mas estou pensando “com” o trabalho assistido, escrevendo “com” o que me afeta. Seguem 05 linhas que produzi com o que assisti:
1. A potência do simples:É comum pensar que o simples é fácil, mas penso que o simples é efeito de muito esforço, precisa-se trabalhar enganando os clichês para produzir um simples potente, um simples que proporcione movimento, um simples que para realiza-lo precisa-se trabalhar muito para que não seja qualquer coisa. Simples não é menos, não é pouco, mas pode vir a ser potência para a produção de tantos outros movimentos...
2. Um todo individualizado:O trabalho apresentado foi realizado por vários artistas selecionados previamente, a performance/coreografia/dança apresentada mostrou um trabalho que contemplava o todo, porém não se tratava de uma unificação, mas sim da singularização de cada participante nesse todo. Era justamente a participação de cada um que formava o todo, porém não desconsiderava suas singularidades.
3. Uma singularidade coletiva:Essa terceira linha, vai diretamente ao encontro da segunda, tratada anteriormente. Cada participante com sua singularidade constituía o coletivo. Com isso quero dizer que, a potência de cada um não era apagada para formar um coletivo definido hierarquicamente. Todos tinham sua importância para que o processo fosse apresentado.
4. Visualidades deslizantes, que escorrem:A visualidade do trabalho apresentado me colocava a deslizar na cadeira, me sentia escorrendo junto com o que assistia. Naquele grande salão todos se espalhavam, se aproximavam, deslizam, escorriam, desfaziam as formações e logo tudo se formava novamente...
5. Linhas e aglomerações:As linhas eram formadas nos deslocamentos que riscavam o ar, linhas que levavam para aglomerações, bolos, grupos e ao mesmo tempo eram linhas que se puxadas desfaziam toda a trama. Uma imensa trama, uma rede de corpos e movimentos, uma rede dos instantes, uma rede que não era visível, mas se estendia pelo espaço capturando quem assistia.
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Essas 5 linhas me tocaram e me colocaram a pensar o processo de criação: potência do simples, um todo individualizado, singularidade coletiva, visualidades deslizantes e linhas e aglomerações, constituem o modo como vejo o trabalho produzido na (Con)Vivência Artística. Talvez possa-se pensar essas linhas em outras (Con)vivências, em outras situações onde se está junto, onde se (Con)Vive e se convive, onde muito se faz e se desfaz, onde o que se destaca é o movimento...
Orientar um trabalho coletivo com corpos tão diversos é um desafio e um infinito de possibilidades, ainda mais quando se busca investir na singularidade dos corpos para que possam formar um todo. Não sei como Adilso Machado procedeu, eu não acompanhei o processo, mas o que assisti me colocou a pensar a potência da proposta. Imagino que os participantes tenham passado por essa experimentação, levado consigo alguma linha da trama composta.
Parabéns...
- Adilso Machado;
- Participantes da (Con)Vivência;
- Coordenação do evento: Prof. Dr. Odailso Berté; Prof. Dr. Gustavo Duarte; Profa. Dra. Mara Rubia Silva; Profa. Ms. Alessandra Londero.
Vídeo da Mostra (Con)Vivência Artística: https://www.youtube.com/watch?v=ZGnzNxT9i98
Foto: Odailso Berté.
[1] FERRAZ, 2015 e 2016.
Referências:
FERRAZ, Wagner. Dance dance: Escrevendo “com” para produzir uma (não) crítica. In.: TOMAZZONI, Airton; DANTAS, Mônica; FERRAZ, Wagner. Escritos da Dança I: Olhares da dança em Porto Alegre. CANTO - Cultura e Arte: Porto Alegre, 2016. (Série Escritos da Dança). Disponível em: https://pt.scribd.com/document/318101500/DANCE-DANCE-Escrevendo-com-para-produzir-uma-nao-critica. Acesso: 12/07/2016.
FERRAZ, Wagner. Pesquisar e pensar “com”: Entre criação artística e criação acadêmica. In.: FERRAZ, Wagner (Org). Experimentações Performáticas. Porto Alegre: INDEPIn, 2014. (Coleção Estudos do Corpo, v. 2). Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/275770813/Pesquisar-e-Pensar-com-Entre-Criacao-Artistica-e-Criacao-Academica-Texto-Wagner-Ferraz. Acesso: 30/11/2015.
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Wagner Ferraz é um dançante, professor, pesquisador, performer e gestor cultural. Coordenador dos Estudos do Corpo, Editor da Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da CANTO - Cultura e Arte. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados em http://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação na UFRGS e CAPACITAR e professor do Curso de Graduação Tecnológica em Dança da Universidade de Caxias do Sul. Doutorando no PPG em Educação e Ciências (UFRGS), Mestre em Educação, Pós-Graduado em Educação Especial, Pós-Graduado em Gestão Cultural e Graduado em Dança. Contato:[email protected]. Site: www.processoc3.com.