Espaço Arcabouço - Cuidado e sutileza
Por Wagner Ferraz
A estrutura armada que constituía o esqueleto do espaço cênico, ou melhor, o espaço arcabouço, onde tudo estava disposto proporcionou ver como tudo ia se constituindo com os elementos e com a operação técnica necessária.
Por mais que a sinopse trate de “relações presentes entre o corpo e os objetos”, destaco que não é disso que vou tratar. Mas, trato de pensar “com” (FERRAZ, 2014a) o espetáculo, “com” a criação do já citado esqueleto do espaço cênico, com isso quero ressaltar que se trata de pensar “com” o que me afetou ao assistir o espetáculo e não “sobre” o mesmo e nem sobre tentativas de tentar interpretar o que assisti.
Então destaco que, o que mais consigo pensar “com” Espaço Arcabouço, foi a sutileza da constituição de tudo que foi apresentado e o cuidado empregado aos detalhes. Para ver o que se constituía em cena, precisei ficar atento ao modo como todos os elementos eram utilizados, ao modo como as ações eram realizadas, ao modo como o corpo se movia cuidadosamente, e assim tentar estudar aquele corpo (FERRAZ, 2013) no próprio realizar das ações em cena.
Para isso se fez necessário observar o cuidado que o intérprete teve com os objetos aos utilizá-los. Assim, como a atenção e dedicação na composição de tudo o que se dava, com a luz, som, elementos cênicos, figurino, com a definição do tempo, com o trânsito pela sala, com o jogo entre malabares e dança.
Tudo parece ter sido muito bem elaborado, “limpo”, cuidado... Não sei como foi o processo de criação deste trabalho, mas fiquei com a impressão de que o tempo de criação deste foi suficiente para investir na maturação do mesmo, para uma maturação aparente naqueles instantes. Sem clichês, sem exageros, sem se perder no que fazia, Gabriel constituiu o esqueleto cuidadosamente, e penso que deve seguir nesse fluxo, vivo e em experimentação.
É claro que um trabalho pode continuar vivo fora de temporada, em processo de experimentação e pesquisa do artista, o que dá possibilidades de se investir em surpresas para não cair na armadilha na linearidade. Não que linearidade não seja potente, e também não estou dizendo que o trabalho seja linear, mas reforço que penso “com” o que assisti e não escrevo esse texto para dizer se foi bom ou ruim, não é disso que se trata. Mas reforço que a atenção e cuidado empregados no trabalho, devam ser mantidos com o “andar da carruagem” e assim buscar manter o trabalho vivo, pulsante e em deslocamento. Simples mas em ação!
Muitas vezes, “menos é mais”, o simples é potente e o “entre” é o espaço para a criação (FERRAZ, 2014b). Mas é difícil tratar disso, porém, acredito que esse espetáculo investiu no cuidado, na sutileza, na simplicidade e na atenção.
Parabéns Gabriel Martins, Paola Vasconcelos, NECITRA e demais envolvidos. Valeu a pena assistir.
Concepção, direção e atuação: Gabriel Martins
Orientação cênica: Paola Vasconcelos
Iluminação: Mirco Zanini
Cenário: Luís Cocolichio
Figurino: Ana Carolina Klacewicz e Thayse Martins
Arte gráfica: Thayse Martins
Produção: Gabriel Martins e Paola Vasconcelos
Fotos: Carol Martins e Lu Trevisan
Realização: NECITRA
Apoio: Gafiera Club, Jr. Malabaris, Azul Anil Espaço de Arte, Eduardo Severino Companhia de Dança e Ânima Cia de Dança.
Projeto contemplado pelo Prêmio FUNARTE Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo 2014.
Referências:
FERRAZ, Wagner. Pesquisar e pensar “com”: Entre criação artística e criação acadêmica. In.: FERRAZ, Wagner (Org). Experimentações Performáticas. Porto Alegre: INDEPIn, 2014a. (Coleção Estudos do Corpo, v. 2). Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/275770813/Pesquisar-e-Pensar-com-Entre-Criacao-Artistica-e-Criacao-Academica-Texto-Wagner-Ferraz. Acesso: 31/10/2015.
FERRAZ, Wagner. Corpo a Dançar: Entre educação e criação de corpos. Porto Alegre, 2014. 190f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014b. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/106500. Acesso: 31/10/2015.
FERRAZ, Wagner; BELLO, Samuel Edmundo Lopes. Estudar o Corpo: do que (não) se trata. In: Wagner Ferraz; Camila Mozzini. (Org.). Estudos do Corpo: Encontros com Artes e Educação. 1ed.Porto Alegre: INDEPIn, 2013, v. 1, p. 255-272. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/275776374/Estudar-o-Corpo-Do-que-nao-se-trata-Ferraz-Wagner . Acesso: 10/11/2015.
FERRAZ, Wagner (Org). Experimentações Performáticas. Porto Alegre: INDEPIn, 2014. Onde encontrar: http://canto.art.br/experimentacoes-performaticas/
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Wagner Ferraz é um dançante, professor, pesquisador, performer e gestor cultural. Coordenador dos Estudos do Corpo, Editor da Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da CANTO - Cultura e Arte. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados em http://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação na UFRGS e CAPACITAR e professor do Curso de Graduação Tecnológica em Dança da Universidade de Caxias do Sul. Contato:[email protected]. Site: www.processoc3.com.