Cuidado Frágil – Grupo Experimental de Dança da Cidade
Por Wagner Ferraz
Frágil – talvez sejam as condições de possibilidades encontradas como modo de tornar potente o dançar no espetáculo do Grupo Experimental de Dança da Cidade. Potência, como uma carga, intensões, um devir... Os corpos se tornavam dança, digo isso, não apenas em relação aos corpos anatômicos, mas também aos corpos-coreográficos, aos corpos-cenas, aos corpos-intensões que se constituíam nos encontros de todos os corpos em cena.
Depois de ter assistido um experimento inicial deste espetáculo em agosto de 2012, percebi que o que vi inicialmente havia ficado pra trás, pois já havia se transformado em outra coisa. Isso me leva a pensar na pesquisa em dança para criação. É tão comum ver leituras, conceitos, imagens, recortes jogados em cena, imagino que algumas pessoas pensam que fazer mapeamento de temas e jogá-los em cena pode ser intendido como um processo de pesquisa. Talvez! Mas se esquecem de que o que pesquisamos pode servir de disparador para a criação, como possibilidade para produzir modos de compor muito singulares. Pois nesse caso para mim, já interessa mais tanto, o que foi pesquisado, mas sim o que se cria com isso, os usos que se faz do que tem, do que vê, do que lê, do que escreve, do que presencia, do que ouve, do que registra... Tudo isso pra dizer que o Grupo Experimental da Cidade trabalhou meses em sua pesquisa.
É tão interessante assistir um espetáculo onde os modelos representativos de técnicas, de modos de viver, de visões clicherizadas são “combatidos”, e um movimento de resistência se destaca. Por resistência quero dizer, resistir a tudo o que se faz, e pelo menos tentar fazer de outras formas. Ok! Mas onde está minha interpretação e os significados de tudo o que vi no espetáculo? Não se trata de significar o que assistir e nem de fazer interpretações que localizem em um modelo identitário fixo que esgota as possibilidades de me permitir afetar pela experiência de assistir. Não se trata de fixar a obra conceituando ou decalcando com conceitos que tenho estudado neste momento da minha vida. Mas se trata de olhar para as potências dos corpos, das cenas, das relações... Mas do que pode se tratar?
Retomo ao que venho escrevendo sobre descoreografar, prefiro, agora, (des)coreografar. Não se trata de nenhum método, nenhuma receita, nenhuma maneira de fazer ou desfazer coreografias, mas sim, modos de pensar/viver/criar/dançar uma coreografia, algo que está na ordem da experiência. E é isso que me interessa, a experiência que vivo ao dançar, mas também a experiência que vivo ao assistir um espetáculo (destaco que não menciono experiência numa perspectiva fenomenológica, mas na perspectiva do pensamento da diferença).
E foi através da experiência ao assistir o respectivo espetáculo que fui afetado por diferentes momentos da obra, e o que me afetou serviu de disparo para eu criar este breve texto. Penso que é isso que um espetáculo pode nos proporcionar, nos afetar a ponto de produzir uma outra criação. Além desse texto, estou pensando em tantas outras coisas que pretendo desenvolver, o que assisti tornou potente algumas coisas em mim, talvez tenha tornado potente o que muitas vezes eu tenho como algo frágil!!!!
Parabéns pelo espetáculo!!! Sucesso!!!
Grupo Experimental de Dança da cidade de Porto Alegre
http://cdancasmc.blogspot.com.br/
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Wagner Ferraz é um dançante, pesquisador e performer. Coordenador dos Estudos do Corpo, Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados emhttp://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação na UFRGS e CAPACITAR e professor do Curso de Tecnologia em Dança da UCS. Contato:[email protected].
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