CAVERNA E PALCO
Wagner Ferraz(*)
DANÇA • CAVERNA • PALCO • CORPO
Se a caverna é considerada um dos primeiros refúgios da humanidade, o palco pode ser tomado como o local no qual o corpo é exposto.
No dia 19 de abril de 2018, assisti a estreia do espetáculo Caverna da Cia Municipal de Dança de Porto Alegre. A estreia aconteceu no Theatro São Pedro da cidade de Porto Alegre/RS.
Um corpo no palco está exposto, um corpo na caverna pode se esconder. É no palco que o corpo busca ou é colocado em visibilidade, na mira do público, na lente do registro, sob o olhar crítico, sob admiração de uns e incômodo de outros, sob crivo analítico de críticos, sob a tensão excitante de um espectador-voyer.
Um palco pode ser a exposição da caverna. Uma exposição na qual o corpo é arremessado ao espaço de visibilidade e é entregue ao julgamento. Estar no palco é um ato de coragem, de desafio e de ousadia. Tratar da caverna no palco vem a ser tratar de expor aquilo que se busca esconder e proteger, vem a ser um jogo de revelar o que se esconde, uma revelação do movimento.
A caverna é desmontada/destruída em cena ao mesmo tempo em que é constantemente remontada, os códigos da caverna são apresentados, a organização social, as preferências, os modos nos quais os corpos em movimento interagem. Tudo no interior da caverna, tudo na exposição do palco.
Um corpo pode ser feito de ametista, assim como um corpo em si é pedra-osso, pedra preciosa de carne, pedra brilhante de pele... Sendo a pele a camada literalmente exposta no escuro da caverna, literalmente exposta pelas luzes do palco. Caverna e palco... caverna no palco... palco feito de caverna...
Viver na caverna e viver no palco podem ser condições totalmente distintas, porém ambas apontam para a constituição de corpo num espaço restrito, que pode se expandir para além da escuridão e para além da luz cênica. Buscamos cavernas e palcos diariamente, entramos e saímos de diversas cavernas e nos expomos em diversos palcos.
Durante o espetáculo eu estava no escuro de uma caverna, assistindo de longe a exposição necessária dos corpos dançando. Ao publicar esse texto me coloco no palco, me expondo, denunciando minha visão acerca do que assisti. Isso se dá em mim ao assistir um espetáculo: penso, escrevo, me movimento, pesquiso, discuto “com” o espetáculo. E esse espetáculo me colocou a pensar nas cavernas e palcos nos quais transito e habito.
Assistir esse espetáculo pode ser um exercício para pensar nas cavernas e palcos da nossa vida!!!
Parabéns Airton Tomazzoni, Paula Amazonas, Neca Machado, Rafael Gomes, bailarinos e toda a equipe envolvido nesse belo trabalho! Sucesso sempre!!!
Abraço
Wagner Ferraz
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CAVERNA
Sinopse: Cavernas foram os primeiros refúgios da humanidade, local onde se encontra proteção, um esconderijo, um abrigo. E é numa caverna que o espetáculo coloca um grupo de indivíduos que busca se esconder das ameaças que o mundo contemporâneo os sujeita para abrigar-se do que não conseguem enfrentar no exterior. A montagem vai construir esse universo em tons de púrpura, remetendo a uma caverna de ametista. A ametista pedra que protege contra diversas energias negativas e eleva a espiritualidade. Assim, os figurinos exploram os tons de roxo e púrpura para estabelecer um clima místico que é pontuado pela trilha sonora que se utiliza de fragmentos de percussão e vocais de artistas israelenses. Metáforas da vida atual, onde se busca refúgios para escapar de tudo que nos adoece física, emocional e socialmente. A montagem criada especialmente pelo coreógrafo carioca radicado em Bruxelas, Rafael Gomes para a Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre. Rafael integrou importantes companhias brasileiras como Deborah Colker e São Paulo Cia de Dança.
Ficha técnica:
Direção Geral da Cia Municipal de Dança: Airton Tomazzoni
Direção Artística da Cia Municipal de Dança: Paula Amazonas
Direção Pedagógica da Cia Municipal de Dança: Neca Machado
Coreografia: Rafael Gomes
Figurinos: Rafael Gomes, Paula Amazonas e Liane Venturela
Elenco: Driko Oliveira, Andressa Pereira, Cecilia Cherem Castilho, Everton Nunes, Fernando Queiroz, Juliana Coutinho, Kleo di Santys, Leonardo Moreira, Mauricio Miranda, Pamela Agostini, Stephanie Cardoso, Victória Terragno, Paula Finn e Caleo Alencar
Fotos do Espetáculo
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2018_-_caverna_-_dance_dance.pdf |
*FERRAZ, Wagner: é um dançante/artista, pesquisador, professor e editor. Doutorando no PPG em Educação e Ciências (UFRGS), Mestre em Educação, Pós-Graduado em Educação Especial, Pós-Graduado em Gestão Cultural e Graduado em Dança. Coordenador dos Estudos do Corpo www.estudosdocorpo.weebly.com, editor da Revista Informe C3 www.informec3.weebly.com e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados em http://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Graduação e Pós-Graduação lato sensu na área da Educação e Dança, já tendo atuado na UFRGS, CAPACITAR, UCS e UNISINOS. Atua como professor de dança no projeto Cartografar Corpos a Dançar. Editor e escritor do blog https://dancedancebr.weebly.com. Criador e professor do curso de formação de professores Educação Criadora, junto com Fernanda Bertoncello Boff, www.educacaocriadora.weebly.com. Contato: [email protected]