Embriagado por movimento!
Por Wagner FERRAZ
Cidade da Goma (Versão Feira no Bueiro)
Embriagado, chapado, sedado, bêbado... surreal... foi mais ou menos isso que se passava ao assistir Cidade da Goma (Versão Feira no Bueiro) do Coletivo Joker com Alessandro Rivellino, Iandra Cattani e Samira Abdalah. Embriago com/por movimento, pelas cenas, pelos vídeos, pela luz, pelo som, pela performance dos artistas, pelas bizarrice e estranheza que se dava naquelas instantes.
O que dizer do trabalho assistido? Não se trata de dizer se foi bom ou ruim, bonito ou feio, melhor ou pior que outros, mas sim, de dizer que o espetáculo convida a pensar a estranheza. Nossa que bacana!!! Só que isso é uma estratégia enganosa, pois ao fazer esse convite nos embriagam e nos jogam na lama, nos fazem tremer só ao assistir, nos fazem colar na parede, nos fazem rir, nos colocam a pensar a velha pergunta clássica, ultrapassada e clichê: Isso é dança? Mas é disso mesmo que trata, de experimentação com movimentos dançantes e não com códigos dançantes, aí a discussão poderia ir longe, mas vai ficar para outro momento.
O que vem ao caso destacar aqui é o caráter experimental, e não como alguns pensam, que experimental é fazer qualquer coisa. Mas sim, experimental como possibilidade de se fazer presente no que se produz, viver o que faz sem se preocupar com o que se pretende alcançar, representar, transmitir ou “passar”...
Experimentar... sentir na pele, viver, mover, cuspir, gritar, dar um tapa na cara... cair de cara na lama e levantar com o rosto coberto de chantili, correr, correr, correr e correr... correr... escorrer pelo chão... E assim vibrar com o sapateado da bota que se mistura com a música que deixa com vontade de...
Cidade da Goma esfregou minha cara no chão de cimento e eu nem percebi! E aí alguns podem me perguntar: Mas tu achas isso interessante? Não é disso que se trata. Trata-se de sentir, não se trata de gostar ao não, mas se trata de um corpo que é afetado com sensações das mais diversas e não por sensações esperadas que vão ao encontro do que eu quero. O que quero eu já sei, e um espetáculo que não me leva onde quero produz movimentos na minha vida. Isso é tudo!
Salão Grená é um espetáculo da jovem Cia Municipal de Dança de Porto Alegre, o espetáculo dirigido e coreografado por Eva Schul e Fernando Campani trata dos salões de baile do século XIX dessa cidade gaúcha. Depois, do desafio de Cidade da Goma (Feira no Bueiro), me sinto recebido para descansar, sentar, assistir e apreciar a singularidade dos bailarinos que constituem a Cia. A diferença entre todos, as nuances, o degradê que eles formam. Isso é potente para o trabalho, gostaria de citá-los, mas tenho medo de esquecer algum.
Corpos potentes para diferentes modos de dançar. Com diferentes “tipos” de dança, o espetáculo se compõe com essa diversidade, tendo suas cenas ligadas por diferentes momentos que são clássicos nos salões de baile. O trabalho assume o caráter representativo, e isso vejo como mais interessante do que espetáculos que tentam fugir disso, mas o fazem o tempo todo. Nesse caso foi potente, pois nos conduz a visualizar as imagens dos salões durante as festas.
Ah, a trilho sonoro de Arthur de Faria... algo que vale a pena ouvir.
Um espetáculo que deixa com vontade de dançar pelos salões, conforme comentários que ouvi. E acredito que seja uma ótima estratégia, deixar com vontade de dançar. Pois está Cia é resultado de uma grande luta, e hoje se constitui como espaço para trabalho, onde bailarinos que tantas vezes precisavam sair do RS do dançar, hoje podem ficar dançando em sua terra.
Com uma taça na mão, vamos dançar, brindar, comemorar, nos embriagar com movimento...
Parabénssss Coletivo Joker e Cia Municipal de Dança de Porto Alegre! Sucesso!
O espetáculo a Cidade da Goma (Versão Feira no Bueiro) do Coletivo Joker foi apresentado no dia 04/072014, na Sala Álvaro Moreyra (POA/RS);
Salão Grená da Cia Municipal de Dança de Porto Alegre foi apresentado no dia 04/072014, no Teatro Renascença (POA/RS);
Agradeço a artista e amiga Daniela Boff pelas conversar que me ajudaram e pensar os espetáculos.
Wagner Ferraz é um dançante, pesquisador e performer. Coordenador dos Estudos do Corpo, Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados emhttp://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação na UFRGS e CAPACITAR e professor do Curso de Tecnologia em Dança da UCS. Contato:[email protected].
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